Conexão Brasil                                                            outubro de 2004
 

 

Notícias de Puna


Mensalmente, o Osho Conexão Brasil apresenta aos seus leitores notícias diretamente de Puna, Índia. Esta coluna é de responsabilidade do Sw. Prasado, brasileiro, há alguns anos residente em Puna, na Osho Commune International, onde cuida da tradução para o português do site oficial do Osho:   www.osho.com .

 

Alô amigos,

                     Com o fim da estação das chuvas na Índia (Monções), o resorte de meditação de Osho em Puna, começa a ficar mais movimentado. Com os estrangeiros chegando, os cursos e grupos de terapias da Multiversidade vão sendo definidos para acontecer na alta temporada a partir de Novembro próximo.

                    Na matéria desse mês temos não uma entrevista, mas um bate papo virtual, ou seja, uma simples troca de e-mails com a nossa querida Yamini Saraswati. Ela é a única Sannyasin, aqui entre nós, que conviveu com o Osho desde os tempos da comuna (Rajneeshpuram) no Oregon, nos Estados Unidos, no início da década de 80. Ela tem o que nos contar.

        Yamini, como foi que você ouviu falar sobre Osho?

        Assim como você pode sentir o gosto do mar em qualquer lugar e ele é salgado, você será capaz de sentir o sabor dos meus Sannyasins e encontrará o mesmo sabor: o sabor do abençoado.” Osho  

        Pois foi assim: o meu primeiro sabor veio de dois dos seus sannyasins,  em Brasília, pelo ano de 1983. Em Brasília tem um lugar especial, o Parque Nacional, com uma piscina de água mineral, cercado por uma mata virgem, exuberante. Para onde vamos  pela manhã praticar  exercícios ou, simplesmente  nos banhar nos poços de águas límpidas, cristalinas, e... mineral. 
        Deitada eu estava, me banhando ao sol. Deitada não mais pude ficar, ao ouvir o som  alegre, festivo, de um grupo que se aproximava. Estavam todos como que envoltos em um manto laranja, trazendo ao pescoço um colar de contas  escuras, no fim do qual tinha uma foto.
Não tirei mais os olhos e nem os ouvidos daquele povo. Ora me pareciam irreverentes, ora me parecia que toda aquela beleza natural, ali naquele parque, existia apenas para eles.
       
Por muitos dias, acontecia a mesma coisa: ali deitada eu estava, eles chegavam, e eu era envolvida por aquela manifestação da vida. Não conseguia me aproximar. Também não conseguia me separar. Entre eles tinha um casal que particularmente me despertava a atenção. Eles dois como que sintetizavam tudo que  eu estava a procurar:  a alegria, a beleza, a vida,  eu mesma.
       
Dias depois, fui conduzida a um restaurante macrobiótico, chamado “Coisas da Terra”. Lá estavam eles. Fiquei então sabendo que  o casal era o Satbodhi e a Marga e eram  discípulos de um mestre indiano, Bhagwan Shree Rajneesh. Fiquei horas ali conversando com eles.  
        Comecei a meditar, a ler o Osho, a  participar dos grupos, das terapias, e antes mesmo que  me desse conta, estava  mergulhada  naquele oceano de bliss (êxtase). O Osho disse  tenho as pessoas certas que vão ser meus livros, meus templos, minhas sinagogas...” Entre muitos dos seus “livros” “templos” e “sinagogas”, encontrei o Prashanto, o Nadeesh, a Taruno, o Vivarta e muitos outros, que iam me guiando naquele mergulho, ou seja, me empurrando mais para o fundo do oceano.
        Um dia, o Ritam me convidou para com ele ir  às agências de viagem pesquisar sobre passagem para o Oregon, para Rajneeshpuram (comuna de Osho nos Estados Unidos). Fui apenas como companhia, as informações eram pra ele, porque para mim, aquilo parecia um sonho inatingível.
Eu  não tinha a mínima reserva em dinheiro, não falava uma palavra em inglês e o meu medo era tão grande, tão grande,  que só poderia ser medido pelo tamanho do meu desejo de estar com o mestre.  Parecia-me que só um milagre poderia quebrar  aquela minha vida de medos e descrenças em mim mesma. 
        E o milagre me foi dado pelo próprio Osho, quando me disse:  “Sou um sonhador incurável. Nenhum milagre acontece a menos que você o realize.”  Quinze dias depois estava eu embarcando para o Oregon. Três dias depois estava eu na presença do Osho.   

        Muito bom Yamini. Vamos continuar com sua aventura. De todos os brasileiros que estão hoje aqui em Puna, você é a única que esteve com o mestre Osho pessoalmente. Conte para os leitores do boletim como você tornou-se uma Sannyasin, como era a cerimônia de iniciação naquela época?

        Amigo Prasado. Segundo o Osho, sannyas é um caso de amor com a existência, com a vida, e eu me apaixonei pelo Osho. Nada mais posso dizer. é um puro caso de amor, de paixão. 
       
A cerimônia de iniciação naquela época, embora estivesse sempre  passando por mudanças, tinha, entretanto, alguns destaques que eram mantidos. Por exemplo: o primeiro passo era o preenchimento de um formulário, o pedido de ‘sannyas’, com nome, idade, signo astrológico, nacionalidade, profissão e aptidões para o trabalho; os meios pelos quais você veio a conhecer o Osho, entre outras questões. 
           

        Vou falar especificamente da minha cerimônia.
        Eu havia  preenchido o meu pedido de ‘sannyas’ em Brasília, mas não consegui esperar a resposta ali. 
       
Depois de ter feito os primeiros contatos com o Osho através dos livros e meditações,  eu não experimentei, inicialmente, um estado de quietude. Pelo contrário, não dormia quase nada, vivia como quem estava com febre, sempre com a temperatura elevada. 
        Falava sem parar, dançava sem parar, cantava e pulava quase que o tempo todo, ou seja, vivia num high speed, um estado que não era usual para mim. E assim  fui parar no Rancho (Rajneeshpuram) e lá, recebi o meu ‘sannyas’.
        Era o chamado "festival de inverno", que correspondia às festividades do aniversário do Osho, 11 de dezembro. 
        Na sexta-feira - dia 9, eu fazia parte de um grupo de 2.435 pessoas para a entrega do sannyas, simbolicamente representado por uma carta, com o seu novo nome e o significado e o mala (o colar com a foto do Osho).
A entrega


Yamini

seria feita na presença do Osho, à noite, no mandir (o buddha hall, o auditorium). O Osho estava em silêncio nesta época e a cerimônia era feita em  satsang.  Segundo o Osho, a palavra sânscrita satsang, significa o encontro de coração para coração, entre o mestre e o discípulo. “Não é, de maneira alguma, uma comunicação verbal” - disse ele – “quando você senta-se em silêncio com o mestre, cedo ou tarde, se dissolvem um no outro. É o amor supremo." (Osho)
        Ficávamos, todos juntos, nós que íamos receber o ‘sannyas’ e, à medida que o nosso nome  ia sendo  chamado, éramos conduzidos pela mão até aquele que nos entregaria a carta e colocaria em nosso pescoço o mala. Os músicos  tocavam e cantavam, toda a assembléia cantava e dançava, talvez mais de 10 mil pessoas, porque  era um festival considerado pequeno. O grande era em julho, chamado o festival de verão, que coincidia com o Gurupurnima, a lua do mestre, celebrado em toda a Índia. O Osho, sentado no podium, de olhos fechados,  irradiava alegria, celebração, felicidade, amor, paz, silêncio. Tudo que o seu coração pudesse  absorver daquela presença de pura luz. 
        A minha entrega de sannyas foi transferida para o domingo, dia 11, o aniversário do Osho, juntamente com o de outras pessoas. Portanto, tive eu o privilégio de ter dois belos momentos de iniciação. Acho que, pelo fato de sermos muitos, tivemos a nossa iniciação feita na parte da tarde. À noite, celebramos com a  presença do Osho, no Mandir Auditorium, em satsang.  

        Muitos Sannyasins, ex-Sannyasins do Osho e outros buscadores espalhados pelo mundo estão hoje se declarando 'Acordados'. 
        Estamos na era do despertar da consciência da humanidade ou isso é apenas uma conseqüência natural do trabalho dos iluminados do passado tais como Buda, Osho, Ramana, Papaji e outros. Como você, com sua experiência, abordaria essa questão?

        Amigo Prasado. Eu começaria lhe dizendo, que o despertar da “consciência da humanidade",  é uma conseqüência  natural do trabalho não só dos iluminados que se tornaram mestres, como os que você citou acima, mas  é a conseqüência da atuação de todos nós. Cada um de nós, como manifestação dessa consciência, estamos participando desse despertar.  
        Não é a primeira vez na história da humanidade, que ocorre um fenômeno como este, do despertar da consciência. Buda, Sócrates, Heráclito, Diógenes, Confúcio, Zoroastro, Mahavir, Lao -Tsu.  Na Índia, na Grécia, na China, na Pérsia, apenas para citar os mais conhecidos nossos, foram todos contemporâneos.  
        O Ramana, que você citou, como também o Papaji,  costumavam dizer que  muitos séculos são necessários para que se faça um Buda ( eles usam esse verbo "fazer", e eu acho muito significativo para o nosso assunto). E quando este momento chega, é como fazer pipoca. Depois que a primeira sprout (rebenta), outras e outras se seguem. Enquanto houver fogo, pipocas pipocarão. 
        O fogo está aceso bem aqui, do nosso lado, no trabalho constante do Osho. Mas este "bem aqui, do nosso lado", não se refere a um espaço físico. É bom lembrar aquela lei física que diz: se uma borboleta, num determinado lugar, num determinado momento, bate as asas no Japão, um terremoto acontece em New York. O que está acontecendo, foi  previsto e citado pelo Osho em muitas ocasiões, quando ele disse que o último presente que ele daria aos seus discípulos, era o portal que se abriria quando ele deixasse o corpo. (E se abriu). O Osho diz: "quando eu não mais estiver no corpo e minha consciência tornar-se universal, você pode simplesmente dar um ‘salto quântico’ com essa energia. E esse é o maior momento na vida. Sua responsabilidade será maior. Isso será um desafio para você.”
       
“A estrada já foi pavimentada  e está cheia de "miles stones" (marcos indicativos): jainismo, zoroastrismo, cristianismo, catolicismo, budismo, muitos ismos. no último marco, está escrito: Osho. sem ismos e sem limites.  Dêem um salto para o desconhecido. estou esperando por vocês.”
        Eu resumiria o que está acontecendo numa frase que ouvi do Osho no Uruguai: “
a terra onde um Buda pisa, nunca mais é a mesma.”

        Beloved Yamini. Muito boa sua última resposta. Vamos então finalizar agora com algo bem pessoal.
       
Parece que você já encontrou seu próprio espaço em Puna, agora tida como a 'Capital Espiritual' do mundo. 
       
Você reside aqui há muitos anos, mesmo não sendo uma freqüentadora assídua do Resorte de Osho. O que lhe atrai nessa cidade e na Índia?

        Beloved Prasado. mais uma vez o "no separation"  se evidencia. (e não poderia ser diferente). A qualidade da pergunta, determina a qualidade da resposta. É ela o elemento desencadeador da inspiração, da liberação das idéias, da provocação, eu diria. Também já estamos mais familiares  (esta é a quarta pergunta), e as inibições e controles vão se arrefecendo, dando lugar à espontaneidade.
        Tenho que falar da minha vida cotidiana, pra responder à sua pergunta. E assim mesmo, será uma tentativa de resposta, pois nesses 17 anos que aqui estou, essa é uma pergunta constante.
        Ontem à noite, tivemos mais uma tempestade de final de monsoon (monções): muita chuva, muito vento, trovões, relâmpagos. Nesses momentos, a luz é cortada e por horas temos que permanecer às escuras. Hoje pela manhã, fomos caminhar no Koregaon Park. Tudo estava lavado pela chuva: o azul do céu, o verde das ramagens, o canto dos pássaros... íamos os três passando  bem debaixo dos bannyas trees (árvores), recebendo cafuné das suas raízes aéreas .
E o Vibhu falava do gap (espaço),  no momento em que a luz dá lugar à escuridão. E do silêncio contido no gap, e de como esse silêncio é conduzido pela própria mente, criando um estado de meditação. O Adhiraj falava que no momento da tempestade foi para o terraço  ouvir a chuva. E com o som da chuva, ouvia as palavras do Osho:
                                 "A vida é uma melodia!
                                  Existência é musical.
                                  anahat nad = “o som silencioso, o qual é incriado"
       
Chegamos  no Teerth, mais conhecido como "Parque do Osho". Ali na entrada, está a estátua do Osho. Os raios do sol, incidindo  sobre o bronze  molhado pela chuva, criava miríades de cores, pequenos e rápidos arco-íris. Lírios brancos estavam nas mãos do Osho e deles emanava uma fragrância doce e suave que chegava até nós.  Ali ficamos os três: o Vibhu, descendente da realeza indiana, convivendo com o Osho desde 1974. O Adhiraj, um andarilho sueco, que aqui chegou  por volta de 1991. Eu, brasileira, baiana, escritora e poeta,  amante do Osho desde 1983. Estavam ali representadas três gerações do Osho. 
        Não sei exatamente  quando retomamos a nossa caminhada, após esta meditação,  em frente  às flores, os arco-íris e as cores  que envolviam a configuração (estátua) em bronze da beleza do Osho. Um estado mais sutil agora nos acompanhava. Um estado de beleza, de interiorização, de silêncio, que vinha revelar a nossa natureza verdadeira: a natureza do amor, do awareness (da perceptividade).
        Por que  estou aqui?  É a pergunta. 
        O Osho diz que a vida é pura alegria, sem finalidade e nem propósito. Como sou o que ele chamou de "spiritual idiot", (idiota espiritual) aqui estou, convivendo com todos esses "spirituals idiots" que fazem de uma caminhada  momentos de meditação, poesia, beleza, silêncio. 
        Eu "parei"aqui, como você diz em uma de suas perguntas. Mas como tudo no "mundo do Osho" está envolto por uma aparente contradição, esta é uma parada em "high speed" (alta velocidade).
        Não sei quem chama Puna de a "Capital Espiritual". 
       
O Osho diz: “tem sido dito às pessoas há séculos, que a espiritualidade é uma espécie de geografia, então mapas são dados a vocês, guias são fornecidos a vocês. Não existem mapas na existência. A espiritualidade acontece em toda parte. Isso nada tem a ver com a Índia como tal. A verdadeira espiritualidade é a maior rebelião. É arriscado, é uma aventura, é perigoso. É uma revolução interior. Pertence ao seu ser essencial. Não façam desse lugar um clube! N
ão é uma coisa social. Reuniões lhe mantém uma ovelha – espiritualidade é um rugido do leão. Estou pronto para renunciar a todas as idéias de espiritualidade, deus, verdade, nirvana, iluminação, e apenas desfrutar estar nesse momento, aqui e agora. Dessa forma, milagres começam a acontecer.”
       
Amigo Prasado. Aqui acabamos. Não deu para falar da minha atração pela Índia. Ela existe. Fica para uma próxima,  e obrigada por me proporcionar estes momentos de puro êxtase.

                                                                                                     Yamini Saraswati.

                                        Puna, 28 de Setembro de 2004

                                              Swami Prasado
   
 
                                        swamiprasado@yahoo.com

 

          

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