AUTOCONHECIMENTO
Estamos
adormecidos não no sentido comum mas num sentido metafísico.
Nós
não sabemos quem somos, como podemos ser chamados de acordados?
Nós nada sabemos a respeito do essencial.
Conhecemos muito do que é lixo – sabemos tudo sobre a lua, o sol e a
terra e conhecemos história e geografia – mas nada sabemos sobre nós
mesmos.
Nada conhecemos a respeito do conhecedor – e isso deve ser a preocupação
principal de qualquer educação verdadeira....
Fundamentalmente
você deve tornar-se cônscio de si mesmo, de quem você é.
E só você pode fazer isso.
Eu posso lhe chamar mas você precisa mostrar-se, você terá que reunir
coragem suficiente para sair da escuridão, sair fora dos velhos hábitos
seculares, sair fora de um longo, longo sono.
E quando você está desperto, a vida é uma dança, uma canção, uma
alegria, uma bênção.
Osho,
A Must For Morning Contemplation
A
Chave Mágica
Primeiro
seja um consigo mesmo. Esse é o primeiro passo da Unio Mystica:
seja um consigo mesmo. E então o segundo, e último passo, é ser um
com a existência. O segundo é fácil. O primeiro ficou difícil devido
a tantos condicionamentos, a tanta educação, e tantos esforços para
civilizar.
O primeiro passo ficou difícil.
Se você deu o primeiro passo de simplesmente aceitar e amar a si mesmo como
você é, de momento a momento... Por exemplo, você está triste. Nesse
momento você está triste. Todo o seu condicionamento lhe diz, “Você
não deve ficar triste. Isso é ruim. Você não deve ser triste. Você
tem que ser feliz”. Assim surge a divisão, agora surge o problema.
Você
está triste: essa é a verdade desse momento. E
seus condicionamentos, sua mente lhe dizem, “Você não deve ser
assim, você tem que ser feliz. Sorria! O que as pessoas irão pensar de
você?”
Sua mulher pode lhe deixar se você ficar tão triste, seus amigos podem
fugir de você se você for tão triste, e seu negócio será destruído
se você permanecer triste. Você tem que rir, você precisa sorrir, e
você tem que pelo menos fingir que é feliz. Se você for um doutor
seus pacientes não se sentirão bem se você for triste. Eles querem um
doutor que seja feliz, alegre, saudável, e você parece tão triste.
Sorria – mesmo que você não possa mostrar um sorriso verdadeiro,
mostre um sorriso falso, mas sorria. Pelo menos finja, represente.
Esse é o problema:
você finge, você representa. Você pode conseguir rir, mas assim você
dividiu-se em dois. Você reprimiu a verdade, você se tornou
falso.
E o falso é apreciado pela sociedade. O falso se torna o santo, o falso
se torna o grande líder, e o falso se torna o Mahatma. E todo mundo
começa a seguir o falso. O falso é o seu ideal.
Eis porque você é
incapaz de conhecer a si mesmo. Como você pode conhecer a si mesmo se
você não se aceita? Você está sempre reprimindo seu ser. O que pode
ser feito então? Quando estiver triste, aceite a tristeza: ela é você.
Não diga, “Estou triste”. Não diga que a tristeza é alguma coisa
separada de você. Simplesmente diga, “Sou a tristeza. Nesse momento,
sou a tristeza”.
Viva
sua tristeza com total autenticidade. E
você ficará surpreso ao ver que uma porta miraculosa se abre em seu
ser. Se você puder viver
sua tristeza sem nenhuma imagem de ser feliz, você fica feliz
imediatamente, porque a divisão desaparece. Não há mais nenhuma divisão.
“Sou a tristeza”. E não há nenhuma questão de algum ideal de ser
algo mais. Assim não há nenhum esforço, nenhum conflito. “Sou
simplesmente assim” e há um relaxamento. E esse relaxamento é graça,
e esse relaxamento é alegria.
Todo sofrimento
psicológico só existe porque você está dividido. Dor significa divisão
e alegria significa nenhuma divisão. Isso pode parecer paradoxal a você:
se a pessoa estiver triste, como é que ela pode ficar alegre aceitando
sua tristeza? Irá parecer paradoxal, mas é assim. Experimente!
Não estou
dizendo para tentar ser feliz; não estou dizendo isso, “Aceite sua
tristeza para que você possa ser feliz”. – Não estou dizendo isso.
Se essa for sua motivação então nada irá acontecer; você ainda
estará lutando. Você estará olhando pelo canto de seu olho: “Tanto
tempo já passou e eu aceitei até mesmo a tristeza, e estou dizendo
‘Sou a tristeza”, e ainda assim a alegria não está vindo”. Ela não
virá desse jeito.
Alegria
não é uma meta, é um subproduto. Ela
é uma conseqüência natural da integridade, da unidade. Apenas seja um
com essa tristeza, por nenhum motivo, por nenhum propósito particular.
Não há nenhuma questão de qualquer propósito. É assim que você é
nesse momento, essa é sua verdade nesse momento. E no próximo momento
você pode ficar zangado: aceite isso também. E no próximo momento você
pode ser algo mais: aceite isso também.
Viva de momento a momento, com tremenda aceitação, sem criar
nenhuma divisão, e você está a caminho do autoconhecimento.
Autoconhecimento não é uma questão de ler os Upanishads e sentar em
silêncio e recitar, “Aham Brahmasmi, sou Deus”.
Esses são esforços inúteis. Ou você sabe que você é Deus, ou você
não sabe. Você pode continuar repetindo por toda sua vida, “Aham
Brahmasmi, sou Deus”. Você pode desperdiçar toda sua vida repetindo
isso, mas você não irá conhecer isso.
Se você conhece-o, não há nenhum sentido em repeti-lo. Porque você
está repetindo-o? Se você sabe, você sabe. Se você não sabe, como
você pode vir a saber pela repetição? Apenas veja toda a estupidez
disso.
Mas isso é o que está sendo feito nesse país e em outros países
também, nos monastérios e Ashrams. O que as pessoas estão fazendo?
Repetindo como papagaios.
Estou lhes dando uma abordagem totalmente diferente. Não é pela
repetição da Bíblia ou dos Vedas que você irá se tornar um
conhecedor, não. Você ficará apenas culto. Então como é que a
pessoa conhece a si mesma?
Abandone a divisão: a divisão é todo o problema. Você está
contra si mesmo. Abandone todos os ideais, os quais criam antagonismo em
você.
Você
é do jeito que você é: aceite isso com alegria, com gratidão. Subitamente
uma harmonia será sentida. Os dois eus em você, o eu ideal e o eu
verdadeiro, não estarão mais aí para lutar de maneira nenhuma. Eles
irão se encontrar e se fundir numa unidade.
Não é a tristeza que realmente lhe causa sofrimento. É a
interpretação de que a tristeza é errada que lhe causa sofrimento, e
isso se torna um problema psicológico. Não é a raiva que é dolorosa;
é a idéia de que a raiva é errada que cria ansiedade psicológica. É
a interpretação, não o fato. O fato é sempre libertador.
Jesus diz, “A verdade liberta”. E isso é de tremenda importância.
Sim, a verdade liberta, mas não é conhecer sobre a verdade.
Seja a verdade, e ela liberta. Seja a verdade, e há libertação. Você
não precisa trazê-la, você não precisa esperar por ela: ela acontece
instantaneamente.
Como ser a verdade? Você já É a verdade. Você apenas está
carregando falsos ideais; eles estão criando o problema. Abandone os
ideais: por alguns dias seja um ser natural. Exatamente como as árvores,
os animais e os pássaros, aceite seu ser como você é.
E surge um grande silêncio. Como pode ser de outra maneira? Não há
nenhuma interpretação: assim a tristeza é bela, ela tem profundidade.
Assim a raiva também é bela, ela possui vida e vitalidade. Então o
sexo também é bonito, porque tem criatividade.
Quando
não há nenhuma interpretação, tudo é belo. Quando tudo for belo,
você fica relaxado.
Nesse
relaxamento você caiu na sua própria fonte, e isso traz
autoconhecimento. Cair na nossa própria fonte é o que “Conhece a ti
mesmo” significa.
Não é uma questão de adquirir conhecimento, é uma questão de
transformação interior.
E de que transformação estou falando? Não estou lhe dando nenhum
ideal que você tenha que seguir, não estou dizendo que você precisa
transformar aquilo que você é e tornar-se outra coisa. Você precisa
simplesmente relaxar no que você é, e apenas ver.
Vocês ouviram o que estou dizendo? Apenas vejam o ponto: é libertação.
E uma grande harmonia, uma bela música é ouvida. Essa música é do
autoconhecimento. E sua vida começa a mudar.
Assim você tem a chave mágica, a qual abre todas as fechaduras.
Se você aceitar a tristeza, ela irá desaparecer. Quanto tempo você
pode ficar triste se você aceitar a tristeza? Se você for capaz de
aceitar a tristeza você será capaz de absorvê-la em seu ser;
tornar-se-á sua profundidade.
Osho, Extraído de: Unio Mystica, Vol. I, #3
Dicas
de Osho para o Autoconhecimento
A
Arte de Observar
Tente
isso o dia inteiro:
o que quer que você esteja fazendo, lembre-se de que você é o
observador. Caminhando... lembre-se que o corpo está caminhando, você
é o observador. Comendo.... lembre-se que o corpo está comendo, você
é a testemunha.
Andando pela rua, torne-se uma testemunha.
Observe o corpo andando... e você fica só observando, testemunhando,
olhando a partir de seu centro mais profundo. De repente você terá um
senso de liberdade.
Subitamente você verá que o corpo está caminhando, você não está
caminhando.
Não
seja o caminhador; apenas observe o corpo caminhando.
Por alguns segundos você pode lembrar-se; de novo você irá esquecer e
você entrará no corpo e tornar-se o caminhador. Mas mesmo se você
puder lembrar por alguns segundos de que você não é o caminhador –
então esses poucos segundos se tornarão como-satori. Esses
poucos segundos serão de uma tal alegria como você nunca conheceu
antes.
Se isso pode acontecer por alguns segundos, porque não sempre?
Às vezes o corpo está
saudável; às vezes o corpo está doente.
Apenas observe, e subitamente você terá um senso de uma qualidade de
ser totalmente diferente. Você não é o corpo. O corpo, é claro, está
enfermo, mas você não está doente. O corpo está sadio, mas isso nada
tem a ver com você.
Coma, prove a comida, e ainda lembre-se de que você é o observador.
No princípio isso irá criar um probleminha pois você nunca fez essas
duas coisas juntas.
No princípio se você começa a observar você irá ter vontade de
parar de comer, ou se você começa a comer você irá esquecer de
observar. Paciência é necessário.
Permita
o corpo inalar.
Você não faz nenhum esforço para inalar; você simplesmente observa o
corpo tendo a inalação. E quando você observa o corpo inalando você
irá sentir um profundo silêncio lhe cercando. A vida respira a si
mesma. Ela move-se por si mesma de sua própria causa. Seu esforço não
é necessário; seu ego não é necessário – você não é necessário.
Você simplesmente se torna um observador; você simplesmente vê o
corpo inalando.
Finalmente
chega o momento quando você pode observar até mesmo seu sono.
O corpo vai dormir e ainda assim há um observador acordado,
silenciosamente observando o corpo profundamente adormecido. Isso é o máximo
do observar.
Agora mesmo, justamente o oposto é o caso: seu corpo está acordado mas
você está adormecido. Depois você estará desperto e seu corpo estará
adormecido.
O corpo necessita de descanso mas sua consciência não precisa de
nenhum sono.
Sua consciência é consciência; ela é atenção – essa é a própria
natureza dela.
O
corpo está profundamente adormecido num descanso total,
mas sua consciência está absolutamente desanuviada. Dentro, como uma
chama, você está alerta, desperto, observando – que nada existe para
observar! O corpo está adormecido e nada há para observar. Mas o
observador é. E pela manhã você está tão renovado quanto é possível
estar.
Observar
o corpo.
Despertar para uma consciência desse vaso mortal, nós começamos a
experienciar aquilo que não é o corpo. A vida não é um espaço entre
nascimento e morte – pelo contrário, nascimento e morte são somente
incidentes que acontecem durante o curso da vida. Durante a meditação,
quando a mente fica quieta e vazia, alguma coisa que é diferente e
separado do corpo pode ser visto.
Extraído da Revista
Osho Times – Edição de Maio/2004
Puna, 28 de Maio de 2004
Swami Prasado
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