Morte,
Reencarnação e Vidas Passadas de Osho
"No momento que a
criança nasce, você pensa, é o princípio da vida dela.
Isso não é verdade.
No momento que um homem velho morre, você pensa, que é o fim da vida
dele.
Não é.
A vida é muito maior do que nascimento e morte.
Nascimento e morte não são duas extremidades da vida; muitos
nascimentos e muitas mortes acontecem dentro da vida. Vida em si mesmo não
tem nenhum princípio, nenhum fim: vida e eternidade são
equivalentes...
A vida começa no ponto da morte de sua vida passada. Quando você
morre, de um lado um capítulo da vida, que as pessoas acham que foi
toda sua vida, é fechado. Foi somente um capítulo num livro que tem
infinitos capítulos. Um capítulo se encerra, mas o livro não é
fechado. Apenas vire a página e outro capítulo começa.
A pessoa que está morrendo começa a visualizar sua próxima vida. Esse
é um fato conhecido, pois isso acontece antes do capítulo fechar...
Buddha tem um nome para isso, ele chama de tanha. Literalmente significa
desejo, mas metaforicamente isso significa a vida inteira do desejo.
Todas essas coisas aconteceram: frustrações, realizações,
desapontamentos, sucessos, fracassos... mas tudo isso aconteceu dentro
de uma certa área que você pode chamar de desejo.
O homem morrendo precisa ver isso na íntegra antes de ir adiante,
apenas recordar isso, pois o corpo está indo: essa mente não vai ficar
com ele, esse cérebro não vai ficar com ele. Mas o desejo liberado por
essa mente se apegará a alma dele, e esse desejo irá decidir sua vida
futura. O que quer que tenha permanecido não realizado, ele irá
mover-se na direção desse alvo.
Sua
vida começa bem antes de seu nascimento, antes de sua mãe ficar grávida,
bem antes do fim de sua vida passada. Aquele final é o princípio dessa
vida. Um capítulo se encerra, outro capítulo começa. Agora, como essa
nova vida será é noventa e nove por cento determinado pelo derradeiro
momento da sua morte. O que você juntou, o que você trouxe com você
como uma semente - essa
semente irá tornar-se uma árvore, trazer frutos, trazer flores, ou o
que quer que aconteça a ela. Você não pode ler isso na semente, mas a
semente possui todo o esquema....
Se um homem morre completamente alerta, vendo todo o terreno que ele
passou e vendo toda a estupidez disso, ele nasce com uma agudeza, com
uma inteligência, com uma coragem – automaticamente. Isso não é
algo que ele faz.
Há
seis grandes religiões no mundo. Elas podem ser divididas em duas
categorias: uma consiste de Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Eles
acreditam somente em uma vida. Você está justamente entre nascimento e
morte, não existe nada além de nascimento e morte – vida é tudo.
Embora eles acreditem no paraíso e no inferno e em Deus, estes são os
ganhos de uma vida, uma única vida. A outra categoria consiste de Hinduísmo,
Jainismo e Budismo. Eles acreditam na teoria da reencarnação. A pessoa
nasce de novo e novamente, eternamente – a menos que a pessoa se torne
iluminada, aí a roda pára.
Eu tenho meditado; eu cheguei a um ponto de onde posso ver minhas próprias
vidas passadas, e isso é prova suficiente. Isso é o meu saber, minha
experiência; isso não tem nada a ver com herança Indiana, crenças ou
qualquer coisa assim. Eu falo com minha própria autoridade.
Eu comecei como um
intelectual – não somente nesta vida mas em muitas vidas. Todo meu
trabalho em muitas vidas está relacionado com o intelecto – refinando
o intelecto, aguçando o intelecto.
Eu conheci tantos grupos esotéricos – nessa vida e antes. Eu estive
em contato com muitos grupos esotéricos, mas não posso lhes dizer
sobre o paradeiro deles. Não posso lhes dizer o nome deles, pois isso não
é permitido. E isso realmente é inútil. Mas eu posso lhes dizer que
eles ainda existem, eles ainda tentam ajudar....
Eu conheci Bodhidharma* pessoalmente. Eu viajei com ele por pelo menos
três meses. Ele me amava assim como eu o amava. Vocês ficarão
curiosos para saber porque ele me amava. Ele me amava porque eu nunca
perguntei nada a ele. Ele me disse, “Você é a primeira pessoa que
encontrei que não faz nenhuma pergunta – e eu fico entediado com
todas essas perguntas. Você é a única pessoa que não me aborrece”.
*(Bodhidharma foi o místico que levou o budismo da Índia para a
China.)
Eu
disse, “Há uma razão”.
Ele disse, “Qual é a razão?”
Eu disse, “Eu apenas respondo. Nunca pergunto. Se você tiver alguma
questão você pode me perguntar. Se você não tiver uma questão então
mantenha sua boca fechada”.
Ambos rimos, pois ambos pertencíamos a mesma categoria de insanidade.
Ele me pediu para continuar a jornada com ele, mas eu disse,
“Desculpe, eu tenho que seguir meu próprio caminho, e a partir desse
ponto este se separa do seu”.
Ele
não podia acreditar. Ele nunca havia convidado ninguém antes. Esse era
o homem que tinha recusado mesmo o imperador Wu – o maior imperador
daqueles dias, com o maior império – como se ele fosse um mendigo.
Bodhidharma não podia acreditar em seus olhos, que eu pudesse recusá-lo.
Eu
disse, “Agora você sabe como é se sentir recusado. Eu queria lhe dar
um sabor disso. Adeus”.
Mas
isso aconteceu quatorze séculos passados.
Alguns
dias atrás Lama Karmapa disse algo sobre mim... Karmapa havia dito que
um corpo meu de algum nascimento passado está preservado numa caverna
no Tibet. Noventa e nove corpos estão ali preservados, dentre eles um
corpo é meu, isso foi dito por Karmapa.
No Tibet eles têm tentado por milhares de anos preservar os corpos nos
quais alguma coisa extraordinário aconteceu. Eles preservaram tais
corpos como uma experiência. Pois tais eventos não acontecem com freqüência,
e não acontecem tão facilmente. Após milhares de anos, de vez em
quando tais coisas acontecem. Por exemplo, o terceiro olho de alguém
abriu e com isso, um buraco foi aberto no osso onde o terceiro olho
existe. Tal evento acontece uma vez em centenas de milhares de anos. O
terceiro olho se abre em tantas pessoas mas esse buraco não acontece a
todos. Quando esse buraco ocorre, a razão por trás disso é que nesse
caso o terceiro olho se abriu com tremenda força. Tal crânio ou tal
corpo é então preservado por eles.
Por exemplo, a energia sexual de alguém, a energia básica, surgiu com
tal força que fez um buraco na coroa da cabeça dele e incorporou-se ao
cosmos. Tal coisa só acontece de vez em quando. Muitas pessoas
dissolvem-se na realidade universal, mas a energia filtra tão
lentamente, e com tantos intervalos, que a energia simplesmente penetra
em pequenas medidas, e um buraco não é criado. De vez em quando, isso
ocorre com tal repentina intensidade que, quebrando o crânio, toda a
energia une-se ao cosmos. Assim eles preservam esse corpo. Dessa
maneira, até agora eles fizeram o maior experimento na história da
humanidade. Eles preservaram noventa e nove corpos. Assim Karmapa disse
que um corpo meu também está preservado entre esses noventa e nove
corpos...
Esse é o nonagésimo sétimo corpo, se contado do lado oposto, pode ser
o terceiro corpo.
Você
me pede: “Por favor você pode dizer alguma coisa sobre sua vida
passada, e se você nasceu na sua presente vida completamente
realizado?”
Meu nascimento anterior ocorreu a cerca de setecentos anos passados...
Pode ser dito que nasci com conhecimento quase completo. Eu digo quase só
porque alguns passos não foram deliberadamente dados, e deliberadamente
isso pode ser feito.
Nessa conexão, o pensamento Jainista é muito científico. Eles
dividiram o conhecimento em quatorze passos. Treze passos estão nesse
mundo e o décimo quarto está no além...
Após um certo estágio de desenvolvimento, por exemplo, após a consecução
dos doze passos, o espaço de tempo que leva para conseguir os passos
restantes pode ser esticado. Eles podem ser conseguidos tanto em um
nascimento, em dois nascimentos ou em três nascimentos. O adiamento
pode ter grande utilidade.
Após
a consecução da completa realização não há mais possibilidade
posterior de nascer mais do que uma vez. Tal iluminado não vai cooperar
ou auxiliar por mais do que um nascimento adicional. Mas após a consecução
dos doze passos, se dois puderem ser deixados de lado, assim tal pessoa
pode ser útil por muitos nascimentos mais. E a possibilidade de pô-los
de lados está aí.
Alcançando o décimo segundo passo, a jornada chegou quase ao fim. Eu
digo quase: isso quer dizer que todos os muros desabaram; somente uma
cortina transparente permanece através da qual tudo pode ser visto.
Contudo a cortina está aí. Após suspendê-la, não há qualquer
dificuldade de ir adiante. Após ir além da cortina, o que quer que você
ordinariamente seja capaz de ver pode ser visto também do outro lado da
cortina. Não há absolutamente nenhuma diferença.
Eis
por que digo quase: dando mais um passo, a pessoa pode ir além da
cortina.
Mas
desse jeito só há possibilidade de mais um nascimento, enquanto que se
a pessoa permanece desse lado da cortina a pessoa pode ter tantos
nascimentos quanto queira. Depois de cruzar para o além, não há
nenhum modo de retornar mais de uma vez para esse lado da cortina...
Setecentos anos atrás, na minha vida anterior, havia uma prática
espiritual de vinte e um dias, para ser feito antes de morrer. Eu estava
para deixar meu corpo após vinte e um dias de jejum total. Havia razões
para isso, mas eu não pude completar esses vinte e um dias. Faltaram três
dias. Esses três dias eu tive que completar nessa vida. Essa vida é a
continuação dali. O período intermediário não tem nenhum
significado nesse respeito. Quando somente três dias restavam daquela
vida, eu fui assassinado. Vinte e um dias não puderam ser completados
porque fui assassinado apenas três dias antes, e esses três dias foram
omitidos...
A pessoa que me matou não tinha qualquer inimizade comigo, embora ele
tenha sido tomado e tratado como um inimigo. Esse assassinato tornou-se
valioso...
Agora eu ainda posso ter outro nascimento. Agora existe a possibilidade
de mais um nascimento. Mas isso irá depender se eu sentir de que isso
será útil. Durante toda essa vida eu continuarei me esforçando para
ver se mais um nascimento será de alguma utilidade. Depois vale a pena
nascer outra vez; do contrário o assunto está encerrado e é inútil
fazer mais algum esforço. Dessa forma esse assassinato foi valioso e útil.
Nos últimos momentos de minha vida anterior, o trabalho restante podia
ter sido feito em apenas três dias pois o tempo era muito compacto.
Minha idade era de cento e seis anos.
Tempo
passava muito rápido. A história desses três dias continuou na minha
infância nesse nascimento. Na minha vida passada isso estava no seu
final, mas para finalizar esse trabalho aqui nessa vida levou vinte e um
anos.
Muito
tempo, se a oportunidade for perdida, pode ser necessário passar tanto
quanto sete anos para cada dia. Assim nessa vida eu não pude vir
completamente realizado, mas vim quase completamente realizado...
*(O entendimento Jainista e Budista em detalhes sobre vidas passadas com
relação aos mestres iluminados é por demais complexo para ser incluído
aqui.)
O pouco que eu disse sobre minha vida passada não é porque esta não
tenha algum valor ou que vocês possam saber alguma coisa sobre mim. Eu
lhes disse isso somente porque isso pode lhes fazer refletir sobre vocês
mesmos e colocar vocês em busca de suas vidas passadas. Na hora que vocês
conhecerem suas vidas passadas, ocorrerá uma revolução espiritual e
uma evolução. Assim vocês irão começar de onde vocês haviam
deixado suas vidas passadas; do contrário vocês ficarão perdidos em
intermináveis vidas e nunca chegarão a lugar nenhum. Só haverá
repetição.
Tem
de ter um elo, uma comunicação, entre essa vida e a anterior. O que
quer que você tenha alcançado na sua vida passada deve vir a ser
conhecido, e você deve ter a capacidade de dar o próximo passo
adiante...
Atualmente
a dificuldade é essa: não é muito difícil lhes fazer lembrar dos
seus nascimentos passados, mas a coisa chamada de coragem foi perdida. Só
é possível lhes fazer lembrar seus nascimentos anteriores se vocês
tiverem alcançado a capacidade de permanecer imperturbável no meio das
maiores dificuldades dessa vida. Do contrário isso não é possível.
Quando
nenhuma memória dessa vida puder ser uma causa de ansiedade para você,
só assim você pode ser levado para as memórias das vidas passadas. Do
contrário essas memórias se tornarão grandes traumas para você, e a
porta de tais traumas não pode ser aberta a menos que você tenha
dignidade e capacidade para enfrentá-las.
Você me escuta? Você me vê? Eu estou à porta e bato, e eu bato
devido a uma promessa feita em outra vida, em outra era.
Essa
foi minha promessa feita a muitos amigos na vida anterior: que quando a
verdade for alcançada, eu os informarei."
N.T. Texto do Osho traduzido diretamente do site www.oshoworld.com
No site não havia citação da origem do texto.
Puna, 29 de Março
de 2004.
Swami Prasado
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