OSHO CONEXÃO BRASIL março de 2004 |
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Visão
de Osho de Uma Comuna
"Eu tenho falado sobre estar no mundo mas não pertencer a ele. Uma
comuna não é uma comunidade, uma comuna não é um mundo, uma comuna não
é uma sociedade. Uma comuna é um agrupamento de pessoas amistosas que
vivem no mundo mas que não são do mundo.
Uma comuna não é uma organização, é simplesmente um agrupamento de
indivíduos. Ela não tira a individualidade de ninguém. Ela não destrói
sua dignidade, seu orgulho, seu auto-respeito. Pelo contrário, ela lhe
dá dignidade, respeito, amor: ela lhe aceita como você é. Ela não
exige que você deva ser outro alguém, para que assim você seja tido
como digno; ela não pede que você seja um santo. Ela simplesmente lhe
ama como você é. Eis porque na comuna não há nenhuma questão quanto
a isso.
Como posso dizer a vocês, 'Estejam na comuna mas não pertençam a ela'?
A comuna é basicamente indivíduos que aprenderam como estar no mundo e
não ser do mundo. Essa declaração é verdadeira com relação ao
mundo, porque o mundo tenta lhe sufocar, o mundo tenta lhe aprisionar de
mil e uma maneiras.
A comuna lhe dá total liberdade para você ser você mesmo; não existe
a questão de pertencer a ela. Cada indivíduo existe como um indivíduo,
não como parte da comuna.
No mundo, cada indivíduo é apenas uma peça na engrenagem, ele não
existe como sendo ele mesmo. Ele é só um número, exatamente como nos
exércitos. Um soldado morre... no quadro dos oficiais aparece o aviso
que 'o número dezesseis morreu'. Nos exércitos nomes não são
reconhecidos, somente números.
Vocês ficarão surpresos de saber a psicologia que há por trás disso;
há um tremendo significado. Se seu nome for reconhecido, então você
tem uma esposa, você tem filhos, você tem pais idosos, um velho pai,
uma velha mãe, que estão esperando por você, que estão orando para
você retornar vivo para casa. Se você tiver um nome, você se torna
insubstituível; mas se você for apenas um número – número
dezesseis...
Números não têm esposas, não possuem filhos, não têm pais –
ninguém está esperando por eles. De fato, números podem ser substituídos,
mas nomes não podem, indivíduos não podem. Portanto, há séculos os
exércitos têm mudado pessoas em números. Assim quando alguém olha no
quadro – quantos números morreram – ele não sente coisa alguma por
suas esposas, pelos filhos deles, pela mãe deles, pelo pai deles, pelos
amigos, todas as esperanças, todas as orações deles...
Essa é uma estratégia bem esperta para enganar as pessoas. E esses números
podem ser substituídos imediatamente por outros números; outra pessoa
será o número dezesseis. Não há nenhum problema em substituir números.
A sociedade também, de um modo mais sutil, faz de você somente uma
parte; ela nunca lhe dá total liberdade de ser você mesmo. Você é um
marido, você é uma esposa, você é um pai, você é um irmão... você
nunca é você mesmo, você é alguém mais. Existem mil e uma
perspectivas para você realizar; estas são suas cadeias. Existem
responsabilidades e deveres; estes são seus grilhões.
Numa comuna você não tem um dever, você não tem uma
responsabilidade. Você não tem que ser outra pessoa para tornar-se
digno, para ser respeitado, para ser prestigiado. Justamente como você
é, em sua total nudez, você é aceito, amado. Seu próprio ser é
suficiente, nada mais é necessário.
Você não pede a uma rosa para ela ser outra coisa, e você não pede a flor de lótus que ela seja outra coisa. Um cravo é tão
belo quanto uma rosa. O mundo seria mais pobre se não existisse cravos,
e somente rosas.
O mundo é mais rico pois uma maior variedade está aí. Cada indivíduo
numa comuna é único; no mundo ele é apenas uma cópia carbono, numa
comuna todos são originais; no mundo apenas uma cópia verdadeira.
O mundo espera que você siga, imite – tudo que os outros estiverem
fazendo você deve fazer. A comuna não pede nada a você; você deve
fazer simplesmente o que é espontâneo para você. Aquilo que você tem
vontade de fazer. Você deve permitir-se absoluta liberdade para que seu
potencial possa florescer. Assim eu não tenho falado sobre a outra
parte da sua questão pois isso seria contra a própria idéia de
comuna.
Uma comuna não é uma sociedade alternativa. Uma comuna é uma
irmandade de almas rebeldes.
Bernie ficou um pouco chateado quando um vizinho telefonou às três da
manhã para se queixar, 'Seu cachorro está latindo tão alto que eu não
posso dormir!' O vizinho bateu o telefone antes que ele pudesse
responder.
Na manhã seguinte, às três horas da manhã, Bernie telefonou para seu
vizinho e disse, 'Eu não tenho um cachorro!' Este é seu mundo – completamente insano! Eis porque eu digo que infelizmente você tem que estar nele. Esteja, mas não pertença a ele; mantenha-se tanto quanto possível não impressionado, não influenciado pelos outros. Mantenha sua originalidade; não a perca na multidão.
A jovem noiva estava inconsolável, apesar de seu falecido marido de
setenta e cinco anos ter deixado para ela dez milhões de dólares como
herança no testamento dele. Os amigos dela tentavam fazer ela entender:
'Você é tão jovem', diziam eles. 'Você tem muita vida pela frente, e
dez milhões de dólares! Ele tinha que morrer mais cedo ou mais tarde'.
'Vocês não entendem', disse ela. 'Ele era o maior amante. Nós morávamos
vizinho à igreja e ele costumava fazer amor comigo pelo ritmo dos sinos
da igreja – ding-dong, ding-dong. E ele ainda estaria vivo até hoje
se não fosse pela porra do carro de bombeiros que passou!'
É por isso que digo: não pertençam a esse mundo. Estejam nele, mas
fiquem atentos para não se perderem na loucura espalhada por toda a
terra.
O velho Finkelstein, de oitenta e cinco anos, dirigiu-se para um banco
de espermas para fazer um depósito. A jovem na recepção ficou
surpresa. 'Você tem certeza que quer fazer isso?' Ela perguntou.
'Sim”, disse o velho Finkelstein. “Eu sinto que é meu dever dar
algo de mim para o mundo'.
A mulher lhe deu um frasco e o direcionou para um quarto. Depois de
passados trinta minutos e ele ainda não ter voltado, a garota começou
a ficar preocupada que ele possa ter tido um ataque de coração. Mas
então o velho surgiu do quarto e aproximou-se da garota.
'Escute', disse ele, 'Eu tentei com uma mão, depois tentei com as duas
mãos, depois eu o levantei e bati nele contra a pia, depois joguei água
morna sobre ele, depois joguei água fria... e mesmo assim não consegui
abrir a tampa do frasco!'
É melhor não fazer parte deste mundo insano!
Permaneçam sãos. Insanidade é normal no mundo – é por isso que vocês
não a detectam. Uma vez que vocês compreendem que essa é uma
insanidade comum, e vocês começam a olhar mais fundo nisso, vocês
ficarão imensamente surpresos ao descobrir que vocês estão vivendo
num grande hospício.
A comuna é uma rebelião, não é uma revolução.
Uma revolução cria uma sociedade alternativa. Por exemplo, o que
aconteceu na União Soviética foi uma revolução; isso criou uma
sociedade alternativa. Essa sociedade, porém, era tão insana como
qualquer outra sociedade; talvez tivesse nomes diferentes para sua
insanidade, mas nada mudou.
Setenta anos após a revolução, as pessoas estavam de pé em filas
apenas para conseguir pão.
Setenta anos antes eles se revoltaram contra o Czar para fazer um novo
mundo onde ninguém seria pobre, mas o que realmente aconteceu foi que
eles criaram um mundo onde ninguém era rico. Eles trouxeram igualdade
ao mundo, isso é realmente verdade; eles tornaram todos igualmente
pobres. Pessoas na União Soviética, as quais somam um sexto da população
do mundo, estavam vivendo num campo de concentração.
Eu estive na América e meus sannyasins na União Soviética estavam
tentando algum dia me levar para dentro da União Soviética. Hoje eles
devem ter se reunido para celebrar – eles me informaram que estarão
se reunindo na mesma hora que nós fazemos aqui. Eles têm que se reunir
em porões. Eles têm que ler livros em silêncio, às escondidas, para
que ninguém perceba.
A KGB, o departamento de inteligência, prendeu vinte sannyasins e os
interrogou continuamente por semanas, constrangendo-os só porque eles
tinham meus livros. Eles tomaram todos os livros deles, e ficaram
tentando forçá-los a dizer quem eram os outros sannyasins.
E porque eles não diziam, eles eram constrangidos continuamente no meio
da noite; eles eram trazidos para a estação e continuamente
interrogados por toda a noite... e chamam isso de revolução!
O homem tornou-se mais escravo do que era antes. O homem não era tão
escravo assim mesmo nos dias do Czar antes da revolução; a sociedade não
era tão dominante e tão temerosa das pessoas e da liberdade delas.
A América proclama a democracia. Eu vivi lá por cinco anos, e não há
absolutamente democracia de jeito algum. É uma das sociedades mais hipócritas;
está enganando o mundo inteiro em nome da democracia. É um outro tipo
de ditadura. Mas o mundo inteiro é assim... Eu tive minha entrada recusada em vinte e um países. Mesmo antes de solicitar um visto de entrada como turista, o parlamento Alemão decidiu e ordenou a todas as fronteiras e a todos os aeroportos do país que se eu tentasse entrar de qualquer parte não devia ser permitido... não somente eu não seria permitido, meu avião também não poderia pousar em nenhum aeroporto do país.
Que espécie de mundo fizemos?
Eu não causei nenhum dano a essas pessoas. Eu nunca estive no país
deles.
E que dano eu posso causar se meu avião apenas pousar para reabastecer
no aeroporto internacional deles? – e porque vocês chamam isso de
aeroporto internacional? De que maneira posso eu afetar a moralidade, a
religião, a tradição deles?
Eu nunca concebi que as pessoas pudessem ficar tão assustadas com o
pensamento racional, com o comportamento inteligente. Eu nunca tinha
pensado que o mundo inteiro vive sob tipos diferentes de superstições.
Eles temem tanto que alguém possa criar uma sublevação – ao menos
na geração mais jovem – por torná-los cônscios da superstição
deles.
Viver sob superstições é viver cegamente. Eis porque eu digo: não
pertençam a esse mundo. Este não é o mundo para seres humanos, este não
é o mundo para pessoas inteligentes; esse é um mundo feio criado por
milhões de anos de superstições e trevas, explorado pelos líderes
religiosos, políticos e pelos assim-chamados moralistas. Eles todos têm
provado serem parasitas – e nada mais.
Uma comuna não é uma sociedade alternativa. Uma comuna é simplesmente
uma irmandade sem qualquer organização, sem qualquer hierarquia.
Ninguém é seu líder religioso e ninguém é seu líder político.
A todos é simplesmente permitido ser seu eu natural, sem qualquer
julgamento e sem nenhuma avaliação."
OSHO
- The Great Pilgrimage
Puna, 25 de Fevereiro de 2004.
Swami Prasado
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