Com certa freqüência, leitores do Osho Conexão Brasil e
outras pessoas que visitam nosso site, têm-nos formulado
consultas. Sempre que possível, orientamos a leitura direta de
textos do Osho sobre o assunto em questão, e, assim,
reforçamos o foco do nosso trabalho que é a divulgação da
sua mensagem.
Há
casos, porém, em que nos é solicitada uma orientação e
sentimos que não podemos deixar de compartilhar o nosso
entendimento, a nossa visão, enfim, a nossa opinião.
Assim,
nesta seção, estamos apresentando mensalmente algumas desses
nossos pareceres sobre algumas questões que julgamos relevantes.
|
Sw.Bodhi Champak
|
As questões que respondemos neste mês foram formulada pelo
Marcelo e
está sendo divulgada com a sua devida permissão. Ele nos
escreveu:
"Desde o primeiro livro "Além das Fronteiras da Mente",
estou sempre lendo um livro do OSHO ao longo dos últimos 5 anos.
Também vivo a experiência da meditação em grupo com a turma do
yoga, pois a professora também vive os ensinamentos do OSHO.
Estou experimentando insights na busca do viver em estado
meditativo o que tem proporcionado uma qualidade diferente em
minha
vida. E minha dúvida é: por que a uma certa altura do
caminho as pessoas vão viver em uma comuna ou coisa parecida ? Já
conheci algumas comunidades, já recebi convite pra viver em uma
delas e apesar de minha desidentificação com o sistema em que
vivo, parece que por inércia me mantenho nele. Qual é a relação
da vivência em sistemas alternativos com a busca espiritual ? Será
isso essencial em algum momento do buscador ? A meditação traz
um vislumbre do que é real, mas como ficar indiferente ao não
real que se impõe pela força constantemente ? Sinto realmente
que a auto-realização ou iluminação acontece na dimensão
interior do ser, mas até que ponto o exterior interfere nisso ? Já
garimpei muito por tais respostas nos livros e vídeos do OSHO,
porém como as respostas são pessoais, sinto falta de contato
direto com um mestre. Bem isso é um privilégio somente daqueles
que são iniciados diretamente.
Até mais... Marcelo"
Muitas
dessas questões têm estado presente em muitas consultas que
recebemos. Dividimos os questionamentos do Marcelo em 5
tópicos para melhor respondê-lo. Eis a nossa resposta:
1)
você diz: "também vivo a experiência da meditação em
grupo com a turma do yoga, pois a professora também vive os
ensinamentos do OSHO"
A
que meditação em grupo você se refere? Quais técnicas? Esse
é um ponto muito importante, pois as meditações do Osho
representam um conceito absolutamente novo em relação a tudo o
que se falou e se fala a respeito desse assunto. As meditações do
Osho foram adaptadas para o homem ocidental moderno. As meditações
tradicionais, tal como sempre existiram no oriente, não
funcionam da mesma forma para o homem ocidental moderno. Nós
podemos até praticá-las, mas os resultados não serão os
mesmos. Além disso, eu vou lhe repetir o que escrevi há poucos
dias para uma outra pessoa: "atualmente todo mundo
fala em meditação aqui no ocidente, mas as pessoas estão lhe
dando um tratamento a partir da ótica ocidental. É o mesmo que
fizeram com a Yoga. Ou seja, a meditação sendo encarada como
um método eficiente para combater o stress e nos deixar mais
aliviados e tranqüilos para conseguirmos um desempenho melhor
no trabalho e nos negócios e nos relacionarmos melhor com as
pessoas e com a vida em geral. Isso pode até acontecer, mas será
uma conseqüência e não o propósito da meditação. Meditação,
mais do que isso. é uma chave muito especial que nos
possibilita abrir as portas do nosso próprio ser interior. Ao
longo de nossa vida, nós fomos recebendo tantas informações,
tantas instruções sobre como pensar, sentir e agir, que
perdemos o contato com o nosso próprio ser interior, com a
nossa essência. Nos esquecemos de nossa face original e
adotamos máscaras mais convenientes e convencionais para
estarmos convivendo com a sociedade. Entrar nesse nosso mundo
interior tornou-se, agora, o mesmo que mergulhar no
desconhecido, pois nem sabemos ao certo quem somos. O caminho da
meditação é um caminho de redescobrir o que somos/quem somos.
E nesse sentido é o caminho do auto-conhecimento. E no caminho
da meditação, a mente é uma ferramenta de muito pouca ajuda.
Como Osho diz, a mente é todo o problema. Foi através dela que
adotamos toda essa fachada que carregamos na vida. Assim, antes
de tudo é preciso que você saiba que meditação significa uma
profunda transformação e requer coragem e ousadia. Existe um
livro do Osho que é básico para quem quer meditar. Ele é
indispensável tanto para quem está começando como para quem já
pratica há muito tempo. Esse livro é "Meditação: A
Primeira e Última Liberdade". Ele tem uns capítulos
iniciais, bem didáticos, onde Osho nos esclarece bem o que é e
o que não é meditação e dá várias dicas para o meditador.
Depois, o livro apresenta cerca de 60 técnicas de meditação
que você pode praticar no seu próprio espaço." Assim,
Marcelo, eu não sei bem que tipo de meditação é essa que você
está praticando em grupo e que tipo de experiência você está
tendo. Mas eu acho importante lhe dizer todas essas coisas acima
a respeito da meditação.
2)
Você diz: "por que a uma certa altura do caminho as
pessoas vão viver em uma comuna ou coisa parecida ?"
.
Isso
pode acontecer ou não. Cada indivíduo é único e cada caminho
é individual. Não há regras.
Eu posso lhe dizer que, no meu caso pessoal, eu senti muito essa
necessidade de estar morando numa comuna com outras pessoas que
também estavam buscando. Mas, depois de um certo tempo, eu pude
ver que essa necessidade minha de estar vivendo numa comuna nada
mais era que uma muleta que eu estava procurando para me apoiar,
talvez para compensar o meu "desligamento" das
instituições sociais mais formais e respeitáveis que antes
supostamente me davam amparo, certezas e segurança. Estar só
é difícil. É um grande desafio.
|
Foto de Gabriel Oliveira
|
3)
Você diz: "apesar de minha desidentificação com o
sistema em que vivo, parece que por inércia me mantenho
nele"
Talvez
você tenha lido ou ouvido a respeito, ou mesmo tenha sido um
grande observador de todo esse sistema em que vivemos e tenha
chegado às suas próprias conclusões. Mas, ainda assim, esse
seu entendimento é resultante de um processo mental. Isso não
significa que você tenha se "desidentificado" desse
sistema. Caso isso ocorra realmente, sua atitude passaria a ser
como a daqueles mestres Zen, totalmente imunes ao que ocorre ao
seu redor, totalmente presentes em si, no aqui e agora, mas
totalmente desligado das tensões, das pressões, dos apelos,
dos ruídos que nos rodeiam. O sistema, esse nome diz muito, inclui não só essa complexidade, essa trama que nos rodeia,
mas também toda a estrutura que criamos dentro de nós, entrelaçada
com essa rede externa. Enfim, desidentificar-se do sistema,
implica em estar só, em silêncio, centrado, em paz, em
profunda harmonia com a existência, ainda que esteja no meio da
praça do mercado, no mundo dos negócios. Então, qualquer
lugar é o aqui e agora, seja na Avenida Paulista ou seja numa
comunidade de pescadores do litoral, ou num mosteiro Zen.
4)
Você ainda diz: Qual é a relação da vivência em sistemas
alternativos com a busca espiritual ? Será isso essencial em
algum momento do buscador ? A meditação traz um vislumbre do
que é real, mas como ficar indiferente ao não real que se impõe
pela força constantemente ?
Se
através da prática meditativa você resgata, cada vez mais, a
sua face original e vai abandonando suas máscaras, as várias
facetas de seu Ego, simultaneamente você vai alcançando o
discernimento do que é bom e legal para você a cada momento.
No exato momento em que você está vivendo, fica claro, diante
de cada situação, o que lhe é bom, prazeroso e fácil. E isso
é o certo: o fácil, o prazeroso e o bom, a cada momento. Não
há que se buscar um sistema alternativo, algo elaborado
mentalmente como um substituto ao sistema corrompido que nos
rodeia. Isso seria, de novo, um outro sistema e nos traria novas amarras,
novo aprisionamento. Com Osho aprendemos que a meditação nos
transporta do mundo da reação para o mundo da resposta. A reação
ocorre a partir de nossa programação, a partir da
personalidade que desenvolvemos por imposição externa. Eu
posso ter-me tornado moralista, contrário a certas práticas que são
condenadas pela igreja e pela sociedade. Daí, eu reajo
radicalmente contra tais práticas. Com a meditação, eu me
reconecto comigo mesmo e acesso minha sabedoria interior, a
minha capacidade de discernimento, a minha intuição. E diante
de quaisquer situações, condenadas ou exaltadas pelo sistema
(igrejas, educação, estado, etc), eu respondo, momento a
momento, a partir desse meu puro e não corrompido discernimento
interior. Assim, você não "tem" que ficar
indiferente ao não real, isso acontece naturalmente. E de uma
forma tranqüila. E não há como esse não real se impor pela
força constantemente a um Mestre Zen. Ele, no máximo, pode
levantar o rosto, olhar toda essa besteira circundante e voltar
sua atenção aonde estava anteriormente, sem se perturbar, sem
ao menos emitir um juízo de que o que o rodeia é uma besteira.
Eu, com minha mente é que estou dizendo que isso tudo é uma
besteira, o que bem prova o quanto ainda estou
"identificado" ao sistema.
5)
Finalmente você diz: "Já garimpei muito por tais
respostas nos livros e vídeos do OSHO, porém como as respostas
são pessoais, sinto falta de contato direto com um mestre. Bem
isso é um privilégio somente daqueles que são iniciados
diretamente."
De
um dos sannyasins que estiveram mais próximos de Osho no último
ano em que ele esteve no corpo, recebemos a seguinte mensagem
que muito se aplica ao seu questionamento: "Osho disse que
as novas pessoas que iriam chegar, depois que ele deixasse o
corpo, já não teriam essa necessidade de sua (do Osho) presença
física. Caso elas tivessem tido essa necessidade, elas teriam
chegado a ele mais cedo. Ele disse que a existência chama as
pessoas para o trabalho de um iluminado, exatamente no momento
certo. É por causa desse número incontável de religiões e
sacerdotes, que nós nos condicionamos a sentir a necessidade do
outro e, assim, nós entregamos ao outro aquilo que é de nossa
responsabilidade." Assim, Marcelo, Osho nos ensina que é
dentro de nós mesmos que iremos encontrar as respostas que
procuramos. Esse é o nosso desafio. E no discurso nº 1 da série
"From the False to the Truth", Osho nos conta que no
dia em que Buda morreu, um pouco antes dele deixar o corpo,
chegou um homem e lhe fez a seguinte pergunta: "Como eu
posso fazer para que, sua presença permaneça disponível para
mim, estando você no corpo ou não? O que eu posso fazer?"
Ao que Buda respondeu: "Se um discípulo está pronto, até
mesmo um mestre morto pode estar vivo. Se o discípulo não
estiver pronto, até mesmo um mestre vivo não pode fazer nada.
Tudo depende do discípulo."
Sw. Bodhi
Champak
|